UM OLHAR DA JANELA

De casa te olho com olhar bem fito

– Olhar que em vão te segue da janela!...

Amo-te, moça, de todas, a mais bela!;

Amo-te assim com amor infinito!

Que feitiço, ó moça, me lançou?!

Que mágica é essa que saiu de ti?!

Por que seduziu-me e agora ri

Da tenebrosa dor que em mim ficou?

Por essa dor que ora bate em meu peito,

Chamo-te deste jeito: linda e pronta!...

Chamo-te agora para ajustar as contas

– Linda e pronta , sim, a roubar-me um beijo!

Em meus sonhos, vem “brincar” comigo,

A zombar do meu nobre sentimento.

Qual fantasma se esvai do pensamento

Ao notar que te quero mais que amigo!

Coisa triste não ver-te do meu lado

–Bem pior do que ingerir um Chinotto!

Talvez algo bem pior do que desgosto,

Quando acordo e não sou teu namorado!

Em sonho me parece mais amável,

Mas na vida me pôs para escanteio...

Não deixa inclinar-me em teu doce seio...

Criou uma fronteira impenetrável!

De mim e do meu exíguo amor se esquiva...

E inda quer receber minha atenção?

Pois zomba do meu triste coração

E da lágrima que na face desliza...

Chamo os românticos por testemunhas

Para neste pleito se porem do meu lado.

Chamo contra ti neste dia até o Pablo,

E a realidade a ti talvez se cunha!

E, por consolo dessa frustração,

Lembro-me do loiro de seus cabelos...

Vontade de tocá-los, doce anelo,

Que irrompe do peito como um vulcão!

Por isso aos quarenta, neste milênio,

Para o mundo fruir dessa frustração,

Abriu-se para ele meu coração,

Despertando em mim o pulsar do gênio!

Não quer mais saber, de mim, um só assunto!;

Nem estendeu de amiga a gentil mão,

Para aquele que teve sua solidão

Tragada pelas solidões do mundo!

De casa te olho com olhar bem fito

–Olhar que em vão te segue da janela!...

Amei-te, moça, de todas, a mais bela!;

Amei-te assim com amor infinito!