FIO SOLTO
Eu vago pelo hiato da noite
Como um fruto indesejado
Na pele as marcas do açoite
Nos sonhos algo impensado.
Mas tudo em mim sussurra
Todos os ais da humanidade
A dor profunda de cada surra
A escuridão de cada maldade.
Encontro da desilusão com a fé
Um vendaval se forma no peito
Crer sem recompensa qualquer
Partir no caminho mais estreito.
E vagar pela noite mais escura
Apalpando espinhos da morte
Colhendo na estima minha cura
Do que fere sem provocar corte.
Canção que em mim hoje grita
Como um desafino da jornada
Recolho o que o ser não palpita
Para no fim do dia não ter nada.
Trilhas sinuosas em montanhas
Sólidas como qualquer pesadelo
Desconhecem minhas façanhas
Sou fio solto no meio do novelo.