FIO SOLTO

Eu vago pelo hiato da noite

Como um fruto indesejado

Na pele as marcas do açoite

Nos sonhos algo impensado.

Mas tudo em mim sussurra

Todos os ais da humanidade

A dor profunda de cada surra

A escuridão de cada maldade.

Encontro da desilusão com a fé

Um vendaval se forma no peito

Crer sem recompensa qualquer

Partir no caminho mais estreito.

E vagar pela noite mais escura

Apalpando espinhos da morte

Colhendo na estima minha cura

Do que fere sem provocar corte.

Canção que em mim hoje grita

Como um desafino da jornada

Recolho o que o ser não palpita

Para no fim do dia não ter nada.

Trilhas sinuosas em montanhas

Sólidas como qualquer pesadelo

Desconhecem minhas façanhas

Sou fio solto no meio do novelo.

Cláudio Antonio Mendes
Enviado por Cláudio Antonio Mendes em 25/01/2023
Código do texto: T7703774
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