VELHOS NOVOS ANSEIOS DE SERES NÃO RECOMENDADOS À SOCIEDADE

Entre as sombras da intolerância nos escondemos,

nos hidratamos com as próprias lágrimas,

nos alimentamos dos sonhos que não concluímos,

nossas vozes foram silenciadas,

existência negada!

Cidadania violada...

Quatro anos sepulcrais sobrevivemos!

Em baixo dos viadutos nos escondemos,

para fugir da tempestade, das críticas,

daqueles que outrora tememos.

Vivemos? Não.

Padecemos.

Nem só de verde e amarelo é a pátria!

Brasil, país multicultural, continental rico em uma diversidade colossal,

reduzido a achismos, colonialismo, racismo, coronelismo, machismo— mentalidade mortal.

E nessa truculenta tentativa de silenciamento e homogeneização, assistimos aos irmãos terem suas vidas descoloridas, ceifadas, por serem quem são.

O hijab tupiniquim não cobrirá as manchas de sangue da discriminação!

Marielle, Samanta, Larissa, Eliel e Marcelo vivem!

Vivem no grito daqueles que ficam, e ecoam na voz de seres não recomendados à sociedade.

Àqueles que não podem participar do almoço dominical por significarem abominação, promiscuidade.

Na língua dos anjos teus nomes nunca foram mencionados...

Nas preces fervorosas de Irmã Mafalda as dores de suas famílias nunca foram anunciadas...

Mas nestes versos, suas chagas serão reveladas,

pelas vozes daqueles que um dia foram silenciados, discriminados, cancelados.

A bandeira que o sangue na ditadura secou,

é a mesma que a carnificina da Covid-19 tampou.

É aquela que o fundo das igrejas ornamenta.

A mesma que enfeita o Corolla, a Hillux, o Rang Over.

Deus quem lhes deu e abençoou. Tá no vidro do carro.

E quem quiser um igual, vai ter que trabalhar muito, mas muito mesmo! Tem que merecer!

Benedita do Carrapatinho faxina 10 casas na Cavalhada para sobreviver.

Por que será que a vida dela não dá uma melhorada? Ela mal tem o que comer.

Não tá se esforçando! Faxina mais 10, quem sabe dá uma arribada e assim enobrecer.

Nos braços de Oxalá, nos refugiamos.

A fé que a nós foi proibida ressignificamos.

Amores a nós negados construímos.

E a espera de dias melhores acreditamos em um Brasil:

Livre,

Unido,

Luzidio,

Acolhedor, Letrado, Inteligente, Vivaz Resoluto, Equilibrado.