INOCÊNCIA ROUBADA

Quem dera a felicidade não fosse transitória

Mas eterna em cada instante que a sentimos

E ainda mais permanente em nossa memória

Como a dor que constantemente omitimos

O que me arrasta nesse pensamento hostil

(Pois é assim que o concebo como ilusório)

Provém da desilusão do meu tempo juvenil

Quando inda pairava nas nuvens do casório

Queria que só vagamente, estas lembranças

Me viessem, e todas em forma de gracejos

Mas não até ao presente me fazer cobranças

Como em Janeiro após os bem-ditos festejos

Era suposto ser o auge da minha realização

Como menina na flor da ansiedade precoce

Transbordando, em mim, fluidos de emoção

Como se feita de infinita felicidade, eu fosse

E o que veio a ser para minha total surpresa

E também para meu todo desconhecimento

Longe de pensar que o calor traz em si frieza

Fui acometida pelo meu próprio sentimento

Encarando o cume do Evereste sentimental

Tinha acabado de projectar a minha queda

Pois 'scalei destemidamente a montanha tal

Com uma vontade descomunalmente cega

O sucedido foi a perda da minha castidade

Que me tornou para a vida toda maculada

Uma inocência que eu presava com a idade

Tinha sido franca e honestamente roubada

Despiram-me por dentro e não só por fora

Levaram consigo não só a minha inocência

Como um rio que pelo sol bravo se evapora

Extinguiram por completo a minha essência

Desse ponto ao momento que componho

Meu destino rumou para uma inútil viagem

Onde concedi à luz a um cadáver de sonho

Tão inalcançável como uma astuta miragem

Como o gozo depois da exaustante incursão

Festejei em segundos o que há anos planeei

Hoje da vida tenho uma tremenda repulsão

Pelo primeiro e único homem que eu amei.

Educético
Enviado por Educético em 31/10/2022
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