Legítima Defesa
Há cinza no céu e nas cartas de tarô
E no meu coração partido
Nunca te pedi muito
E até isso se tornou demais
Tenho dificuldade em dizer adeus ao deslumbramento que sentia
É como me despedir de um membro amputado
Que se arrasta para longe enquanto o sangue ainda pinga
Bem... eu nunca tive problema
Em estrelar tragédias gregas ou dramas mexicanos
Mas a ideia de me tornar um clichê
Me corrói por dentro como uma doença degenerativa
Quase tanto quanto a ideia de olhar em seus olhos
E não sentir nada
Porque a verdade que me escorre do canto da boca como bile
É que eu sinto falta de sentir sua falta
Mas não sinto sua falta
Ainda há breves raios de sol
No céu e em meu coração partido
E pessoas ansiosas por beijar estes lábios frios
Talvez, por todo esse tempo
Você acreditasse nisso mais do que eu
Talvez, por todo esse tempo
Eu tivesse medo de ser livre
E você tivesse medo de que eu já o fosse
Me incomoda o odor do rastro de sangue
Que deixo para trás ao assassinar de forma tão fútil
Algo que um dia conteve tanta beleza
Todo aquele que ouviu a história com atenção
Sabe que a culpa não foi minha
Mas isso não torna a partida menos dolorosa
Nem oculta as manchas rubras que profanam-me as pontas dos dedos
Não deveria confessar sem advogado presente
Mas eu te amei
E, na verdade, esse foi o único crime pior
Do que deixar esse amor para morrer
Dói mais do que as palavras conseguem dizer
Vê-lo de entranhas abertas agonizando no meio da rua
Mas eu juro que foi em legítima defesa