AVESSO
AVESSO
Andrade Jorge
Tenho pernas e pé da intolerância
pra chutar a hipocrisia e ganância;
Meus braços são do medo,
receio e prudência logo cedo;
Nas mãos dedos da estiagem,
aridez na seara da vadiagem;
Nos meus ouvidos filamentos da sabedoria,
pra escutar no vento mais um perdido segredo;
Hei! Criador!
Meu olhar é de guerra e paz,
é ponta de gelo que não desfaz,
se houver intriga
tem brilho que cega e cessa essa briga;
Na boca o desejo e emoção,
forno pra incandescer a ilusão;
O coração pulsa por pulsar
encravado no peito de aço pra suportar a dor,
a dor ... A dor ... A dor ...
Na cabeça o destino, a sentença,
fonte forte dessa crença,
mas de que vale toda essa prosa,
se no teu avesso
vem a causa de tanto tropeço,
não sou de seda nem de linho,
sou a rubra rosa
que perdeu a pétala, solitária virou espinho ...
Hei! Criador!
Há muito tempo
não sei o que é amor ....
08/06/07