Górgona
Nas profundezas abissais dos teus olhos me perdi...
Penumbra sorrateira. Padeci!
Labirinto tortuoso, repleto de imagens de ti!
Visão caleidoscópica, quase enlouqueci.
E, nesse frenesi...
Ao lutar contra tudo e a todos por ti
Benquerenças? Perdi.
Lugares? Nunca mais vi!
Olores? Não mais senti!
Funesta manhã que te conheci.
Tua beleza mitológica idolatrei
Na tua língua ofídia me desencontrei...
Serpente sorrateira a quem meu coração confiei!
Alimentou-se dos meus sentimentos que a ti entreguei.
As tardes ensolaradas em frente ao Rio Paraguai nada significaram...
Juras de amor as jaçanãs presenciaram
Promessas fraudulentas os curicacas testemunharam...
Tudo o que era bom as águas do Paraguai levaram...
Boca do inferno que um dia me apaixonei,
Boca que agora me amaldiçoa, escarra,
Boca que beijei...
Mãos que me afagaram, agora me apedrejam,
Mãos que encantaram, agora me assustam!
Mãos que outrora flores me entregaram,
pelas costas apunhalaram.
A voz rouca que um dia ‘eu te amo’ sussurrou
Ecoa em minha cabeça e traz lembranças do tempo que passou.
Agora, tudo mudou!
Maldizeres e escárnios a mim declarou
7 gerações de sangue meu amaldiçoou.
Que a fé em São Luís de Cáceres do mal me afaste!
Que as velas a Oxum contra a moléstia vençam o combate,
A ti, desejo somente a felicidade,
Quem sabe nos braços de outro homem encontre o amor de verdade
Deixe-me em paz com minha liberdade.
De estátua de pedra a humano retornei!
O mundo parece diferente desde que regressei...
Quantas coisas, quantas cores experenciarei...
Estou de volta! Finalmente me reencontrei.