Amor à Venda
Esta mulher que sobe a altar, solene
E faz juras de amor ao prometido...
Que não prometa tanto, mas encene.
Do covil de onde vem-ego partido...
Jaz ali sem qualquer piedade a morte
Trajada assim do que é fraco e proibido.
Só antros em que há um ser mais forte,
Devorador de carne e alma também;
Onde se vê o punhal do duro corte...
A uma imagem de Cristo diz-se: "Amém!"
O eflúvio da imundície é mal vapor
Mas que prende todos àquele harém.
Voz se ouve sem amor - rugem leões,
E morcegos voam naquele quarto...
Antigos vultos declamam maldições.
A lâmpada suspensa é algo farto:
Os dois corpos nus, sem mais vibrações...
Sem pudor, sem tesão... depois infarto...
Prendem grilhões... palavra mal se diz
Depois do quarto se paga o que dera...
E diz adeus à sua mera atriz.
Porém cada um carrega uma fera:
Aquele homem no altar, feliz
Traz consigo um demônio, não quimera...
Que a noiva é também uma meretriz.