NUNCA VI MINHA FACE 16 💠
Nunca vi meu rosto
O que vejo são sempre imagens
Reflexos que se perdem em meio ao tempo desgastado
Viagem
Miragem
Mas de todos os rostos sei demais
Pois os vejo
Vejo os demais rostos
(Que visão de amargor e desgosto!)
Menos o meu
Essa é a sina de existir
Prisioneiro do corpo de barro
Mas nem por isso encarcerado
A alma dentro do corpo agoniza
E clama por liberdade
Ai de mim que procuro o que nunca encontrei...
Como será o meu rosto?
Se vejo apenas símiles falsas?
Mas eu sei quem eu sou
Mesmo sem rosto
Tem algo que me difere dos outros mortais
Nem por isso
Nem aquilo
Desgosto de não ser mais um rosto
Mas ser eu em meio aos outros
Essa casca de roupa rota não se desgasta
Vem contendo também uma alma de brilho original e louca
Que nem o passar do tempo
Nem o ciclo dos anseios
Sequer estanca nem arrasta
Como será o meu rosto
Nem meu pensamento diz
Nem meu coração acerta
O retrato falado erra
Nem sequer desperta
Uma fagulha incerta de como me parecia
Nesta fantasiosa vida deserta
Minha face é fixa
Perdi sua aparência em meio à muitas descrições
São muitas
Várias
E ao mesmo tempo nenhuma
Depende
Da luz
Do tempo
Do sonho
Do invento
E há de se mostrar inerte
E há de se mostrar lívida
E possa ser que me liberte
Mas só eu sei onde ficou escondida
A minha face ainda
27/06/2022
10:20hrs