MOEDA DE DUAS CARAS
São essas coisas que te dividem
Que te fazem ser alguém e ao mesmo tempo ser o outro
Essa metamorfose que te impõem
Sem se importar
Se vai sair uma borboleta ou uma bruxa
Te acuam
Te acusam
De calúnias deslavadas
De ser Núbia
De ser Nuvem
Ora estratos, ora cumulus-nimbus
Ora rosa matizada
Ora preta e trovoada
Assim é que se sucedem as coisas
Mas não as que tu queres
O que não querias acontece
"Aconteceu... Que se há de fazer?"
Vira-casacas
Troca de times, mas não o teu
Te vestes do outro
E de quem não és
Só pra dar uma resposta à altura
Porém uma sub-resposta
Depois a frustração
Quem é você?
Que precisa se disfarçar de outra pessoa?
E ao vestir a máscara de outrem lhe deixar sem face?
Esse roubo audaz de alma desperdiçada
Nem a retens
Nem a devolves
E fica mais uma alma amargurada nessa mendicância de pobres
Pobre que tu és!
Ao te disfarçares!
Nem a mais perfeita maquiagem esconde que és tu ao seres outro
E sendo outro não mais és
Tu!
Disfarças de pedra
Disfarças de água
Por causa dessas coisas que tu conheces tao bem desconhecendo...
A ti mesmo se perdendo em meio ao dúbio
Em meio à nuvem
Em meio a estrada
Coisas como essas que te obrigam a parar
Estagnado
Em meio a encruzilhada e escolher
Sempre o outro
E não você
São coisas como essas
Que te fazem ser dois e não o uno
Que te fazem ser engano e não resposta
Que te pegam sem reação e sem proposta
De defesa
Te obrigam a ser ostra
Mas não entres em ostracismo
A torre de Babel se erguerá
Até alcançar os céus
Porém te deixará aí
No chão
sub-vôo
Passaro sem voar
Pensa em ser uno
Pensa sem disfarces
Sê pedra e água doce
Sem pegar emprestado a nenhuma face
Conforma-te consigo mesmo
Lança os outros à lua
Ao mar ou onde for
Desde que desagues e não represes
Desde que se liberte de quem és
Não sendo o outro
De ti mesmo se revestes camada por camada
De carapaça dura
Seja quem és
não sendo ninguém mais que você mesmo
Os outros bastam a si mesmo e não a ti
Sejam quem forem, não importa
Importa quem tu és sem te tornares o outro
13/05/2022
14:52hrs