Boneca de Porcelana

Nas noites em que ficava em meu quarto,

estava a contar todos os minutos do ponteiro,

para não ver a chuva que caia em minha janela.

Eu hei perguntar-me de estar louca,

mas no encontro das rosas, eu dizia estar bem.

Todas as pessoas estavam a sorrir,

enquanto tu matavas o meu coração

com o espinho que sempre usas com as outras.

Fui apenas mais uma de tuas vítimas,

em que, à meia-noite, tu dizias cuido-te

e às seis da manhã, tu ignoras-me

Todas as moças do encontro diziam-me

do jogo ardiloso que fazias com belas mentiras

Às manhãs, eu contava com o teu bel-prazer

em fazer-me de boneca de porcelana,

arrumada para ti e opaca para outros.

Vi o chão meus pés trémulos nos paralelepípedos

daquele vilarejo que não parecia mais meu lugar,

em que eu permanecia apenas pelo teu bel-prazer

A perfeita boneca de porcelana não tinha rachaduras,

mas tu fazias questão de lembrar-me que era opaca,

porque não servia nas roupas em que tu vestias

Eu era apenas uma peça do armário de tua irmã,

a brincar com todas as partes do meu corpo.

Eu poderia sentir o rachar do meu coração,

escondido dentro das vestes escolhidas por ti,

e eu estaria com um sorriso vermelho e olhos brilhantes.

No vilarejo, as tuas histórias não ecoavam mais.

Todas as rachaduras agora visíveis aos olhos de todas.

Tu nem fizeste a mínima de saber como estavam.

Uma cavalaria a passar e tu foste o primeiro a empurrar-me

em direcção ao chão, a quebrar-me em pedaços.

Todas passaram por cima e meus cacos a esconderem

entre os pequenos vãos dos paralelepípedos.

Todas avisaram pelo vilarejo do fim da boneca de porcelana,

a bela moça enganada pelo espinho de uma rosa.

Mariana dos Expedicionários
Enviado por Mariana dos Expedicionários em 31/05/2022
Código do texto: T7528132
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