Boneca de Porcelana
Nas noites em que ficava em meu quarto,
estava a contar todos os minutos do ponteiro,
para não ver a chuva que caia em minha janela.
Eu hei perguntar-me de estar louca,
mas no encontro das rosas, eu dizia estar bem.
Todas as pessoas estavam a sorrir,
enquanto tu matavas o meu coração
com o espinho que sempre usas com as outras.
Fui apenas mais uma de tuas vítimas,
em que, à meia-noite, tu dizias cuido-te
e às seis da manhã, tu ignoras-me
Todas as moças do encontro diziam-me
do jogo ardiloso que fazias com belas mentiras
Às manhãs, eu contava com o teu bel-prazer
em fazer-me de boneca de porcelana,
arrumada para ti e opaca para outros.
Vi o chão meus pés trémulos nos paralelepípedos
daquele vilarejo que não parecia mais meu lugar,
em que eu permanecia apenas pelo teu bel-prazer
A perfeita boneca de porcelana não tinha rachaduras,
mas tu fazias questão de lembrar-me que era opaca,
porque não servia nas roupas em que tu vestias
Eu era apenas uma peça do armário de tua irmã,
a brincar com todas as partes do meu corpo.
Eu poderia sentir o rachar do meu coração,
escondido dentro das vestes escolhidas por ti,
e eu estaria com um sorriso vermelho e olhos brilhantes.
No vilarejo, as tuas histórias não ecoavam mais.
Todas as rachaduras agora visíveis aos olhos de todas.
Tu nem fizeste a mínima de saber como estavam.
Uma cavalaria a passar e tu foste o primeiro a empurrar-me
em direcção ao chão, a quebrar-me em pedaços.
Todas passaram por cima e meus cacos a esconderem
entre os pequenos vãos dos paralelepípedos.
Todas avisaram pelo vilarejo do fim da boneca de porcelana,
a bela moça enganada pelo espinho de uma rosa.