CÉU
Flertei com discrição o céu inerte
tentando desvendar suas entradas
Tive vontade de subir
Voar
Mas a cera e as penas já se desgastaram
Então me contive
Mas não por inteiro
Não pra sempre
Não sem sentir o tremor
e a flama ardendo
crescendo
Mas eu queria entender
porque num instante passado
esse tremor me fazia insistir
Obsecado
Estreito
Queria saber como é o oceano
e porque sentia suas ondas quebrarem
A maresia salobra a me instigar tal sede
me dilapidava
Queria gravar num olhar cada nuvem
cada pôr do sol e enluar
Queria desvendar o indesvendável
e coser com um pedacinho do céu uma colcha pra mim
Deitar e me cobrir de estrelas
Sonhar e me despir do véu
Só queria mimetizar
num relance só
e bebericar do infinito que diante de mim se desenrolava
Impossível
Não sou nuvem
Nem estrelas
Nem sol
Nem solução
Não estou nu
Desvendado
exposto e envergonhado
Não sou eu
É impossível tal transmutação
Desfaleço em céu
Em mim, emudeço.
19/05/2022
07:39hrs