O Desamparo é Minha Linguagem
Logo você que disse não participar de espetáculos minúsculos
Se viu preso no músculo atordoado de um juiz torpe
Servindo entretenimento e desespero à esposas blasé
O desamparo é minha linguagem, não vês?!
Preso dentro do deus particípio
Dança na sombras de almas alheias
As costura dilemas na língua
O desamparo é minha linguagem, não vês?!
Para que possa mentir com propriedade
Me desajeito do desejo, ainda contínuo sedento
Por você, por minha escolhas, por minhas feridas
O desamparo é minha linguagem, não vês?!
Já é fevereiro outra vez, mas não há carnaval
Há um velório ambulante, a céu aberto
Arrasto pelas avenidas visões nos moedores de carne
O desamparo é minha linguagem, não vês?!
Um agora crônico, datado em certeza
Se auto velando, se auto vangloriando
Suspeito de arregalar álibis em cinemas
O desamparo é minha linguagem, não vês?!
Te ergo nas pérolas atiradas em amantes
Se esquivem, ou aceitem-me em tua luz fraca
Pois sou como um rosto abandonado
O desamparo é minha linguagem, não vês?!
Rodopio com espelhos como se você estivesse aqui
Enfrento faróis de carros que me devassam
Me abrace como nunca, na tua decadência
O desamparo é minha linguagem, não vês?!
O açougue transtorna-se em comício
Comestível, se alimenta de tecidos e olhos de algodão
Se há catedrais comestíveis, nenhuma delas nos vestem
O desamparo é minha linguagem, não vês?!