O Desamparo é Minha Linguagem

Logo você que disse não participar de espetáculos minúsculos

Se viu preso no músculo atordoado de um juiz torpe

Servindo entretenimento e desespero à esposas blasé

O desamparo é minha linguagem, não vês?!

Preso dentro do deus particípio

Dança na sombras de almas alheias

As costura dilemas na língua

O desamparo é minha linguagem, não vês?!

Para que possa mentir com propriedade

Me desajeito do desejo, ainda contínuo sedento

Por você, por minha escolhas, por minhas feridas

O desamparo é minha linguagem, não vês?!

Já é fevereiro outra vez, mas não há carnaval

Há um velório ambulante, a céu aberto

Arrasto pelas avenidas visões nos moedores de carne

O desamparo é minha linguagem, não vês?!

Um agora crônico, datado em certeza

Se auto velando, se auto vangloriando

Suspeito de arregalar álibis em cinemas

O desamparo é minha linguagem, não vês?!

Te ergo nas pérolas atiradas em amantes

Se esquivem, ou aceitem-me em tua luz fraca

Pois sou como um rosto abandonado

O desamparo é minha linguagem, não vês?!

Rodopio com espelhos como se você estivesse aqui

Enfrento faróis de carros que me devassam

Me abrace como nunca, na tua decadência

O desamparo é minha linguagem, não vês?!

O açougue transtorna-se em comício

Comestível, se alimenta de tecidos e olhos de algodão

Se há catedrais comestíveis, nenhuma delas nos vestem

O desamparo é minha linguagem, não vês?!

Pierrot Ruivo
Enviado por Pierrot Ruivo em 05/05/2022
Código do texto: T7510099
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