Mordaça
Embalei as mais lindas frases que já escrevi,
Juntei meus versos, embalei minhas rimas
E quis sair semeando poesia pelo mundo...
Mas à medida que eu soltava as palavras
Uma mordaça invisível me abafava a voz
E me trancava no silêncio mais profundo.
Tantas palavras doces eu tinha para falar,
Tantos olhares frios eu queria iluminar
Com a magia dos poemas que guardei...
Mas a mordaça era forte e me sufocava,
Uma ameaça velada, quase um punhal,
Retalhando os sonhos lindos que sonhei...
Eu só queria o mundo mais bonito,
Com paisagens de eternas primaveras,
Apagando o cinza frio do outono,
Onde se trava essa luta do bem e do mal.
Queria ver meu sorriso refletir no outro,
Com paisagem de nuvens dançando no azul,
Como anjos num arranjo quase que celestial.
Mas ledo engano, eram em vão os meus passos,
Me arrancaram as páginas que trazia nos braços
E me deixaram inerte, contemplando o vazio...
Poeta inútil, de mensagem muda
Calei-me em prantos, suplicando ajuda,
Um mendigo errante na multidão indiferente,
Sem voz, sem forças, sem destino
Esquecido num lugar que nem sei,
Cavando com as mãos, órfãs e vazias
O sepulcro dos versos que calei
No funeral solitário da última poesia.