Chuvas de Janeiro (1997)

Em 1996 eu trabalhava na Barra, na volta pra casa eu pegava um ônibus pirata com destino a Austin (um bairro depois do meu)...

Tinha um tempo que eu não ficava com ninguém, daí conheci uma menina, a gente sempre voltava conversando, eu tava afim, percebi que ela também estava...

Eu vinha criando coragem para pedir um beijo, um dia ela me disse que seria transferida na próxima semana, isso era numa quinta feira. Então eu tive que ser um pouco mais incisivo na conversa para deixar tudo esquematizado para o dia seguinte, sexta feira...

A conversa foi mais olho no olho, mais íntima etc. Quando nos despedimos em Nova Iguaçu (ela descia antes de mim), o abraço foi mais demorado e terno, ela disse que, assim como eu, não trabalharia no sábado, e poderíamos conversar mais amanhã, oba!!!...

Era verão, dezembro, e eu parecia com aquela manhã de sexta feira, quente, eu era o próprio azul vibrante do céu (poético né?). Entretanto, como acontece nessa época do ano, a tarde, tudo ficou cinza, um vendaval terrível e chuvas torrenciais na Barra. Cadê que consegui chegar ao ponto de ônibus? Cadê que consegui ver a minha pretendente? Nunca mais vi....

Meu lamento um tanto exagerado foi expresso nessa poesia:

....

Não foi a queda da água,

Não foi a queda da luz.

Não foi a queda da árvore,

Nem o sangue junto ao pus…

…Que me fez acordar chorando.

Foi alguém que não está mais aqui,

Que me fez vagar no espaço,

E me perder por aí.

Não foram as chuvas de janeiro,

Não foi o tempo nublado.

Não foi a falta de dinheiro,

Nem o sangue derramando…

…Que me fez dormir chorando.

Foi alguém que não está mais aqui,

Que me fez vagar no infinito,

E em lágrimas me esvair.

Foi ela que se foi sem me dar um beijo.

Foi ela que foi junto com as chuvas de janeiro.