Compassivo
Eu não sinto mais a minha humanidade.
Não sinto as dores costumeiras,
Não tenho acesso de lamentações,
Não grito quando recebo noticias desagradáveis,
Não pratico coisas irreparáveis.
Não choro quando vejo o amor ir embora,
Não falo de mim mesma a toda hora,
Não faço pelos meus amigos o que eles não fariam por mim,
Não sou eu mesma,
Nem sei o que nisso há de ruim.
Não fujo das situações complicadas da vida,
Não me importo com as feridas banais.
Não sinto falta das coisas que não existem mais.
Não sou humana,
Não sou Deusa,
Não sou pecadora,
Não sou sentimental,
Não sou sensível,
Não quero felicidade,
Não conheço tristeza,
Não tenho vaidade,
Sempre saio ilesa.
Não desejo ninguém,
Não sou desejada.
Falo com todo mundo
E estou sempre calada.
Vivo sem prantos imundos,
Não sou pra ninguém, a namorada.
Eu falo com todo mundo
Mas estou sempre calada.
Desperto toda a atenção
E ternura não me falta.
Quero ser sincera,
Mas não quero ser amada.
Quero deixar para o mundo
Coisas que eu nunca entendi.
Vivo de sonhos inundos
Num mundo ao qual nunca pertenci.
Queria, de verdade,
Ser tudo que eu disse aqui.