Polyphonic Lazarus

A estranheza que se vê

Como um cadáver que reluz.

Um cadáver ainda incompleto e esquisito

Que veste sobras de outros corpos que o atravessaram

Impermanência dos sentidos

O que foi-se é portanto a virtude

Sentado em silêncio na sala de espera

Meus reféns, meus garranchos e meus carrascos

Me provocam, eu os aceito

Me devassam, eu os aceito

Me ofendem, eu revido

Me visitam, eu os recebo

O rei de castelos inabitáveis

São ecos de uma solidão hospitalar

Versos calvos que perdem a prudência

Enxergam o defeito e dele se alimentam

Perigo é encontrar a libido revidando com tinta gauche permanente

Todas as cores dos lábios que sujei, ou invejei pela noite

Com meu sexo, com meu fígado, com meus mantras,

Com mentiras, com meus deuses, com doenças invisíveis

E ainda que eu seja ruim e nefasto

Eu sempre volto, eu sempre vou voltar

Até não voltar mais e ecos assumirem o meu lugar

Assim estarei eu, sentindo o gosto da suprema fraqueza da existência

Todos que me veem, sabem: Finitude

Manifestação contrária a minha presunção de culpa

Já que sempre me doei à todos, por fugas rápidas

Eu valsei com tuas soluções insalubres e fora um pesadelo

Saiba, mesmo a morte mais feia e sofrida

Fora capaz de ser bela e reconfortante

E não é minha dissimulada devoção à ceifadores

Mas são efeitos do meu método do acerto comigo mesmo

Pierrot Ruivo
Enviado por Pierrot Ruivo em 14/03/2022
Código do texto: T7472061
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