Na calçada
Na calçada do supermercado, mulheres e crianças pedem.
Vergonha, é um luxo que não se pode ter.
Difícil situação, constrangimento e dor sucumbiram ao terreno da necessidade.
Sinto-me um avião sem teto.
Meu peito há muito tempo anda descoberto.
Ando, mas me sinto paralisado, os batimentos cardíacos deveras em simulacro.
Agora compreendo a expressão: homem de plástico.
A engenhosidade humana provou ser um verdadeiro fracasso.
A criança que fui, hoje não quer mais brincar!
Calçadas, ruas e praças estão ocupadas pelos que não tem nenhuma carta de baralho.
Sinto-me como aquele espantalho que não tem mais nenhuma função.
A morte se afastou para não ter que me dar a mão.
No fundo do espelho o ponto perdeu sentido.
Nada, nada, tudo ficou opaco, insosso.
Não consigo gritar, minha garganta é puro vácuo.