Pavão Taxidermista

Debaixo dos teus lábios rachados

Bebo o auto circense

Carregado de alegorias malabaristas

Que sustentam-se como o verão em maio

A voz de outrora suspira:

Eu já lhe disse mais de mil vezes

Jamais volte aos cuidados do boto

Em outra multiplicação, conhecido como Narciso

Paixão início, quero-te o caput

As pernas entrelaçadas nas minhas

Feito o apêndice aparentemente

Recém pincelado com a maestria de custura

Um amor dos lábios frios e azulados

Olhares perdidos em um futuro tardio

Pele perfurada por inseto, calçada de baratas

Banquete da senhora majestade de larvas

Céu avesso, vala comum

Anéis que escorregam

Peito enxerto

Adônis de taxidermia

Não beba de meus lábios em selvas tropicais

Pois moscas caçoam-te o dia inteiro

Procurando convencer-me do adultério

O romantismo delas és forjado pela onipresença

Os devaneios de corações inchados

O doutor diz-me um tango, uma vela e um trago

Uma simpatia simplista que haveria aprendido

Tal qual um rito de passagem, e eu não havia entendido

Sob esta terra que o romance lhe seja leve

Sem mim e sem os vermes em tragédia

Com Saturno mordendo os calcanhares

proclamo tempo de híbridos botos e templo

Pierrot Ruivo
Enviado por Pierrot Ruivo em 28/01/2022
Código do texto: T7439635
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