“SOLIDÃO”.
Cai assim aos poucos negra noite,
Foge lentamente aquele claro dia,
E o vento frio o toca como açoites,
A molesta-me a alma em agonias!
Vai-se a paz, em grande disparada,
Marejam-se os olhos turvos e tristonhos,
Embaçados e frágeis na infinda solidão,
Não podem nessa hora conter os sonhos!
Um moribundo perdido e sem destino,
Vagamente perde-se na escuridão,
Vêm-lhe as memorias de menino,
Envoltas a desatinos em desilusão!
Descamba vago em suas mazelas,
Tropeçam aos poucos os sentimentos,
O semblante amargo em desconsolo,
O abate em fadigas tais tormentos!
Foram-lhe como engodo traiçoeiro,
A vida que o pregou a triste peça,
Tenta se erguer, faltam-lhe as forças,
Os tais anos antes foram festas!
Contempla um horizonte cinzento,
Em desânimo e solitário sofrimento,
Tem como cama, a terra mãe,
Seu grande cobertor o frio relento!
Pálido sopro vem-lhe assombrar,
Em lembranças que nunca o deixou,
Sem conter, lágrimas que lhes cai,
Ensopa o pouco sonho que restou!
Desconfiado e sem ter esperanças,
Disfarces não lhe vêm à mente,
O que era alegria nos dias de gloria,
Restou-lhe apenas amarga dor somente!
E o indigente que um dia teve sonhos,
Percebe que a sorte foi-lhe invertida,
Sem forças pra seguir declina e tomba,
Entregue a solidão depõe a própria vida.
Cosme B Araujo.
27/12/2021.