Hein? Canto?

Como pôde o encanto

Acabar-se desse jeito,

Se até hoje ainda canto

A canção dentro do meu peito?

Pr'o meu salgado pranto

A irrigar a face triste;

Vagar de canto em canto,

Se algum ainda existe.

Sendo ele somente um santo

Tentando fugir como suspeito

Que tu um dia viste

E disseste: imperfeito!

Viver seguindo em frente,

Mas mirando a sombra do passado

Através de um retrovisor descrente

Que hoje em dia é estilhaçado

E faz criar em tua mente

Uma ilusão ou coisa assim

Que no futuro a gente sente

Perfurar como um faim.

É um caso complicado

Este amor-morto, indigente

Que foi nascido já fadado

A consumir a'lma da gente.

Então como tu podes falar

Que acabou o meu encanto

Se apenas sabes apreciar

Aqueles que estão defuntando?

Porque assim posso pensar

Que ainda não morri

E estás a admirar

O que poderia ser de ti.

Num belo dia, quem sabe quando,

Um novo homem te fisgar

E o meu som for minguando...

Até eu parar de cantar.