Descautela

Em sonhos vulgares, eu devoro bordéis

Me recorto em pernas, canto teu nome nessas bocas

Busco a América em beijos acinzentados

Cicatrizo-me no meu perfume ordinário

E se a bondade for maligna perante deus?

Enchendo-se de vontades enxertadas

Julgando e performando altruísmo

Em jogos de vaidade

Paciência tabulada em meus ossos

Me entrego aos jogos mentais da paranoia

Me desfaço em sombras do quarto

Me recomponho em silhuetas

Aos deuses que me incriminam

Para depois de longas idas e vindas

Amaldiçoar minha carnificina simbólica

Com seus ritos de um consumismo desenfreado

Eu me pergunto no ápice do fascínio e da euforia

Posso me resguardar no meu auto descuido

Que não é tão aparente, mas igualmente nocivo

Quando convém, eu volto a beirar o teu espírito

Arrependido dançando com menestréis

Embaixo do vestido florido do martírio

A beleza carrancuda arrastando cadáveres

Por debaixo das dobras de pele

Por todas as ofensas e maldições

Que já disse à quem me ama

A todo o amor que inventei sem culpa

Eu escorro dos lábios um perdão dolorido

Até meu último suspiro

Na minha insatisfação

Eu cantarei bênçãos

À intimidade que celebramos

Pierrot Ruivo
Enviado por Pierrot Ruivo em 12/11/2021
Código do texto: T7384371
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