Descautela
Em sonhos vulgares, eu devoro bordéis
Me recorto em pernas, canto teu nome nessas bocas
Busco a América em beijos acinzentados
Cicatrizo-me no meu perfume ordinário
E se a bondade for maligna perante deus?
Enchendo-se de vontades enxertadas
Julgando e performando altruísmo
Em jogos de vaidade
Paciência tabulada em meus ossos
Me entrego aos jogos mentais da paranoia
Me desfaço em sombras do quarto
Me recomponho em silhuetas
Aos deuses que me incriminam
Para depois de longas idas e vindas
Amaldiçoar minha carnificina simbólica
Com seus ritos de um consumismo desenfreado
Eu me pergunto no ápice do fascínio e da euforia
Posso me resguardar no meu auto descuido
Que não é tão aparente, mas igualmente nocivo
Quando convém, eu volto a beirar o teu espírito
Arrependido dançando com menestréis
Embaixo do vestido florido do martírio
A beleza carrancuda arrastando cadáveres
Por debaixo das dobras de pele
Por todas as ofensas e maldições
Que já disse à quem me ama
A todo o amor que inventei sem culpa
Eu escorro dos lábios um perdão dolorido
Até meu último suspiro
Na minha insatisfação
Eu cantarei bênçãos
À intimidade que celebramos