Coração de Agosto
Meu coração durante esses Agostos
na praia de Pipa observando o horizonte,
de onde a ressaca do mar envia tanto vento!...
Comigo mesmo penso: fé em Deus e fiquem atentos,
aconselhem os pescadores que do mar
chegam à praia e em suas casas no fim da tarde
querem o descanso, a boa aguardente e seus amores.
A salvação de algum poeta
ou de algum pescador é estar apaixonado
e na vontade contida a esperança
de sempre sobrepujar o desgosto,
há uma oração que os resguarda,
o devaneio e dança encantada
como um delírio, uma certidão,
uma visão que lhes fala
conferindo o verbo e o ritmo...
pois venderia a propriedade, mas nunca,
um poema sagaz, a evocação da musa,
sua arte, a emoção de desbravar
um novo oceano, um novo rio,
uma nova criação com suas palavras!
No mês de Agosto o coração pegou um pequeno barco
e desbocou no rio mais próximo.
Decaiu, por sua ribeira fluindo,
adentrando a virgindade da sua delta,
e quando os ventos amargos e invejosos
da ressaca cruel que neste mês existe
afugentou os lençóis das pequenas velas,
seu tripulante singelamente
tomou a última dose da inspiração mais bela
e se afogou nas águas com espumas revoltas,
com a satisfação da imortalidade
que esses meses de Agosto guarda.
Luiz Carlos de Almeida