VINHO! SAÚDE!

Vinho, saúde!
Aqui não há solidão
Procure sem receio
A tua nova composição
A nova curtição
Sem bloqueios
Mas atenção! Assim, não!
Não use mais o coração!
Lembra dos 20 anos de união?
Lembra do que restou?
Acho que só a pensão!
Pensa! pensa! oh! Coração!

Vinho, saúde! Aqui não há solidão
Aqui te compões
Aqui te emolduras
No quadro em branco e preto
Dos que aqui te expões!
Aqui te defines na pouca luz
E na fumaceira da vitrine
Aqui estarás evidente, reluzente
Procurando quem esteja afim

Não foi pra isso que eu vim...

Vinho! Saúde!
Olhares cruzados na meia luz
olhares frustrados em corpos decrépitos
almas penadas, perdidas
esmoleres do coração
espíritos carentes, ausentes, sozinhos
sem razão
feridas não pensadas, abertas
outras cicatrizadas à mostra!

Vinho! Saúde! Expõe-te! Sorri!
Sufoca o choro da alma! Apressa tua conquista!
O tempo está passando
Não seja formalista!
Compõe logo o teu par antenupcial!
Compõe logo o teu ar perespiritual!

Vinho! Saúde!
Do convite à distância
No aceno dos olhos
Aceito nos lábios
Já se sente o gosto da carne exposta
Sem rubor
Que o calor do corpo oferecido brindará
Brindará ao toque suave do rosto sofrido

Do contato brando do corpo ferido!

Vinho! Saúde!
Nem tudo está perdido!
Compõe o teu par
Esquece tua alma carcomida pelo tempo e intempéries!
Busca na libido á tua disposição um corpo
Ali, aquele coração, aquele lá,
Que se expõe à gratuita composição!

Vinho! Saúde!
Compõe o teu par!
Aquece teu corpo!
Esquece teu tempo! Ocupa teu espaço!
Procura o sensual, ocasional...
Mesmo sem o rubor do ideal!
Troca calor agora!
Não pensa na dor!
Compõe o teu par, temporal!

Vinho !Saúde!
Compões mal!

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COMENTÁRIO EM DESTAQUE:  POETA DALMO DUTRA


Bom dia, amigo Eligio! O seu poema,a meu ver, está muito bem escrito e, mais uma vez,se junta e conclama o leitor(a) para enfrentar as adversidades da vida. O meu comentário é fruto da minha experiência de vida, que você conhece e viu como um feliz e intenso amor me cometeu a vida, de modo que sou homem feliz hoje em dia. E vivi mais ou menos ao léu, como descreve o teu lindo e dolorido poema... E ele diz com ênfase que o coração deve ser poupado nas próximas relações, mas ao mesmo tempo insinua que é uma má composição não usar o coração. Belo tema, belo poema. Parabéns,meu amigo.

COMENTÁRIO EM DESTAQUE DA DIVA ESTHER LESSA

O poema é um exaltado convite a esquecer o tempo . Mas também, exorta para a passagem dele. Urge ocupar o espaço, esquecendo a dor e as feridas cicatrizadas. Ou não. Urge buscar um novo par e aquecer o corpo. E traz um novo conceito:não usar mais o coração. Um poema que caminha em meio a destroços e, desiludido,propõe sarcasticamente, o amor imediato, o sensual ocasional. Somos ínfimos, mas somos um mundo! E há sensações de completa imersão no nosso mais profundo eu. E uma busca desesperada de encontrar a superfície e o sol. Foi o que vi. . Mas,como sempre, entendo que a vida nos recompensa em algum momento. Por isso, ouso lhe dizer, poeta, que existe sim, a possibilidade de um novo par chegar, ao coração triste e solitário. Não, como fortuito passatempo. Mas como um amor,que traga as magias e mantenha o encantamento,garantindo uma felicidade que não se esperava mais! Parabéns! Poema de peso, expondo enorme qualidade poética de seu autor! Em tempo: Expressiva declamação! Deus o Abençoe!