O COMENDADOR FALCATRUAS

Neste país, tão aventureiro

Das quatro derivas do mundo,

Tem-se destacado bem fundo

Um madeirense pantomineiro.

Foi emigrante n´ África austral

Enriqueceu na mineração

E, como ele era espertalhão,

Regressou rico ao seu Funchal.

Apostou forte no continente,

Onde viu oportunidades,

E, sem embarcar em veleidades,

Tornou-se empresário e gerente.

Fez-se de Arte colecionador,

Calcorreou mil fantasias

E, sem peias, mas com magias

Chegou mesmo a Comendador.

Ninguém sabe a justa razão

Que o fez a tão longe chegar,

Mas não adianta especular

A origem de tal distinção.

Deitando mão a falcatruas,

Com negócios por todo o lado

Tornou-se tão enfatuado

Com´ o homem das sete Luas.

Sete Luas e sete ofícios,

Toda a economia se agitou

De tal modo, que se tornou

Homem dos sete malefícios.

Inspirado pelo “budismo”

E pela gana de ser banqueiro

Perdeu a cabeça p´ lo dinheiro

E trepou ao novo-riquismo.

Obras de Arte, sua paixão

Que alimentou todo o mercado:

Agitam-se bancos por todo o lado

Abarrotando a Fundação…

Chega, porém, o que tem que ser:

Brinca Berardo no Parlamento,

Não tem dívidas nem orçamento,

E é cidadão com´ outro qualquer.

Estão em alta, cotas e luvas,

As insígnias e as suas comendas

Milhares e milhares de “prendas”

Mas só s´ apuram falcatruas…

- A justiça saiu-te à rua,

Vai Comendador, não demores,

Compensa-nos antes que chores

Co´ a fortuna que não é tua…

- Já não mandas no que é teu

Nem rirás a bandeiras despregadas,

Põe a nu as tuas argoladas

Que a tua honra já prescreveu.

- Prescreveu e já não tens avença!

Ninguém adivinha o teu destino,

Talvez percas agora o tino

E com ele tua riqueza imensa.

Não e não, e nunca jamais!

Não queremos tais Comendadores

Que não passam d´ exploradores

Do Património dos ancestrais…

Frassino Machado

In RODA-VIVA POESIA

FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 01/07/2021
Reeditado em 01/07/2021
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