NA HORA DE PARTIR
Tropeçou no chinelo na porta da sala
Bolsa esparramou-se pelo corredor
Na pressa de arrumar a mala
Deixou pra trás pedaços do amor
Cabeça erguida, cheia de medos
Escolheu seu melhor vestido
Nesse momento revelam-se segredos
Diversas direções misturam sentido
Olhou a fotografia da penteadeira
Abraçados sob o Cristo Redentor
Das juras de amar para vida inteira
Sobrou um retrato triste da dor
Da gaveta tirou carnês atrasados
Colocou-os no caderno dos recadinhos
Na capa dois corações entrelaçados
Há tempos sem mensagens e carinhos
Levava o seu coração ferido e magoado
Delicadamente pôs no criado-mudo a aliança
Para ele não ter qualquer esperança
De ser novamente perdoado
A chave deixou debaixo da porta
Parou um momento perto da escada
A hora da partida é sofrimento que corta
Parece que viver não vale nada
Felizmente, veio vazio o elevador
Melhor não vissem lágrima escorrer
Deu bom dia ao porteiro e zelador
O até logo ficou na vontade de dizer