O lixo
No cantinho, vestida de preto
O cheiro nem está tão ruim
Por fora engana, parece uma parte do cenário
Um nó perto da boca, apoiado, não se mexe
Dentro do lixo tem lixo
Tudo aquilo que não serve mais
Papel rasgado, memórias ruins
Coisas que algum dia foram afins
Não é texto de Verissimo
Não tem final feliz
Não existe final, o lixo não acaba nunca
É um produto que precisa ser constantemente melhorado
O lixo só vive em uma ideia própria
Não tem controle de si
Nem do que depositam nele
Ele só é jogado de um canto a outro
O lixo era para ter destino
Mas não o tem, o descarte nunca é bem feito
Sempre tem algum rejeito
No final ele é sempre desfeito
O lixo sente que é depósito de engano
Fonte de confusão
Preenchido de indecisão
De medo, de nojo, de vergonha própria
O lixo é covarde, não tem propósito
O lixo era quente, o lixo hoje é frio
O lixo era vil, o lixo esconde coisas
O lixo era eu, o lixo sou eu