O lixo

No cantinho, vestida de preto

O cheiro nem está tão ruim

Por fora engana, parece uma parte do cenário

Um nó perto da boca, apoiado, não se mexe

Dentro do lixo tem lixo

Tudo aquilo que não serve mais

Papel rasgado, memórias ruins

Coisas que algum dia foram afins

Não é texto de Verissimo

Não tem final feliz

Não existe final, o lixo não acaba nunca

É um produto que precisa ser constantemente melhorado

O lixo só vive em uma ideia própria

Não tem controle de si

Nem do que depositam nele

Ele só é jogado de um canto a outro

O lixo era para ter destino

Mas não o tem, o descarte nunca é bem feito

Sempre tem algum rejeito

No final ele é sempre desfeito

O lixo sente que é depósito de engano

Fonte de confusão

Preenchido de indecisão

De medo, de nojo, de vergonha própria

O lixo é covarde, não tem propósito

O lixo era quente, o lixo hoje é frio

O lixo era vil, o lixo esconde coisas

O lixo era eu, o lixo sou eu

Tamyrys Hadassa
Enviado por Tamyrys Hadassa em 26/02/2021
Código do texto: T7193719
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