Memórias
Lateja em todo canto, pelas sendas da alma
Resquícios de ti, rasga-me sem piedade
Tento calar as vozes que ecoam
Que lembram o que eu gostaria de esquecer, impelir.
Em cada parte do meu vasto refugio
Alieno, tento parar o tempo
Quero demorar-me nas lembranças
Num gesto de relutancia, tua imagem afugento.
Sou entorpecida pelo calor do momento
Sou engolida por tantos sentimentos
Que sufocam, tragam-me a vida
Em luta desigual com meu eu que grita.
O silêncio de fora sentencia
Crava na alma todo disabor
Que emerge das sombras
No final de mais um dia.
E mesmo que eu tente afastar
quebrar o elo que prende-me agora
Mesmo que eu decida fugir, afastar
Tenho tantos rastros tatuados na memória.
Poderia fingir, forçar o riso
Perder a sensibilidade, esconder sob um véu o olhar que tornou-se apático
para aliviar o depreciante martírio
Esvair-me até criar-me um vácuo.
Ou ser toda torpor.
Dormente, insadecida
Respirar a morte em vida
Seguir entorpecida
Em uma existencia crucial
No ponto alto da melancolia
Matar o ciclo de dor visceral
Cambaleando, existindo
Bebendo em pequenos goles,
esse desmedido vazio.
Aceitando o inevitável destino
Até o findar desse ciclo pungente
que as memórias se percam no caminho
nesse deserto em mim latente.