Basta!
Basta de tanto cuidado!
De tanto temores
Para que serve tanto batom
Numa boca muda ou de onde
as palavras abortam justamente os significados
mais relevantes
Basta de tanto ruído!
Aonde está a melodia no mundo?
A boa música? O bom gosto trivial?
É na batida techno que o corpo chacoalha
Neurônios perdem eletricidade
E a inércia reina
estática e estrategicamente sobre todos nós
Os nós que não desatam.
Os nós sem corpus,
sem alma e sem união
Óbices sociais a impedir que
o todo seja simplesmente inteiro,
seja representativo
Aonde há dignidade nessa terra?
E na feira diária das opiniões,
o exótico capta e corrompe
a atenção dos incautos.
Basta de tanta ideologia!
De alaridos fracassados e socialistas,
populistas ou saudosistas
Há quem tenha saudade dos militares,
da ditadura,
da guerra surda a traficar a sorte
e a morte
pelas esquinas encruzilhadas
marcadas com cruzes invisíveis.
Basta. Eu disse: basta!
Não me venham com soluções solúveis e
instantâneas
Com magias rápidas e milagrosas
Banhadas em água de colônia
E com cheiro de rosas sem espinhos.
Que pareça limpa, linda e perfeita.
Basta de tanta lamúria!
De não aceitar a velhice ou a infância,
De não entender a miséria ou a realidade
De não suportar o caótico, o ilógico
ou absurdo.
Basta de racionalidade
judaico-cristã,
ocidentalóide
Engasgada de lucros sub-reptícios,
de produtividade escamoteada
de juros acima e em cima de juros
A nos cobrar muito mais do
oue aquilo que realmente devemos.
Somos todos devedores e
Inadimplentes
desconhecemos a nossa história.
Não compreendemos nossa etnia.
Nosso nacionalismo está sepultado
Pelas inglórias tentativas de sermos
exatamente aquilo que jamais sonhamos.
Basta de puritanismo!
Não é a nudez que é imoral.
Não é o sexo que é nojento.
É esse silêncio cúmplice
de tanta covardia
de tanto entreguismo nobre.
Preciso hoje de um grito,
Um protesto, uma rebeldia
para redimir no peito essa imensa vergonha
conformista com tudo.
A revolução começa mesmo
por dentro de nós.
Basta! Por hoje, basta!