Dores e choros
Há palavras que são de calar
E choros feitos para engolir
Mas guardam um sabor amargo
Adstringente no céu da boca
Nublam o azul do céu
Descem sem mastigar
Falei o que havia por calar
Chorei o que havia por deglutir
A coragem transformei em versos
Me fiz mulher nos lençóis
Me fingi de homem na vida
Fecundei amor e pari dor
Rebento meu de mãe e pai
Inegável ascendência
Traduzi em palavras minha dor
Pois os gestos ceifaram meu amor
Ouça atende ao meu clamor
Trata com zelo essa flor
Que não se cala por pavor
Nem se engole no torpor