Fixação
Eu amo, tanto, mas tanto, você,
Por troca, dá-me quase pouco.
Na opinião dos que me vêm,
Eu sou doente, eu sou um louco.
Interpondo-me aos seus pés,
Qual fosse joia, quase tudo.
Na verdade, exclusivo revés,
e não vai de um leve escudo.
Preciso refletir um tanto,
O que faço é muito tosco.
Para safar-me deste manto,
Infectado de anseio louco.
Abrir os olhos e acordar-me certo,
Que gostar demais, não é o errado.
Se ao invés, você fosse mais afeto,
Nada mal faria, esse amor cravado.
Mas, ai, ai, sou barbante fraco,
Arrebento-me no vácuo que resta.
Se corro de você, viro em trapo,
A saudade sorrateira se manifesta.
Oh, Deus, me ouça agora,
Enquanto lateja a ferida.
Pelo amor dessa senhora,
Sou capaz de doar a vida.
Se não for assim o plano,
Arranca-me desta cisma.
Que me corrói ano a ano,
Desfaz a oração da rima.
Dá-me a anistia,
Direito de cidadão.
Venha de alegria,
Distante da paixão.
O que eu quero é sorrir,
Cantar, dançar, vencer.
E ao mundo me dividir,
Mas dela, me esquecer.
Que façamos, então, um trato:
Deixe-me gelo, calmo ou mudo.
Que não seja do ódio o retrato,
Temperado, eu inspire de tudo.
Em troca, porei em tudo a fé,
No pico de ida, a bandeira da esperança.
Mostrarei que nem toda maré,
Toca para longe, felicidade que amansa.
Farei do céu o espaço do voo,
Da terra, pássaros dos cantos.
Das mãos, maestras do coro,
Do sorriso, alento dos prantos.
Atende-me, se por ti, mereço,
Embora palpite o meu coração.
Pois cada qual tem seu preço,
Que não me venha em fixação.