COLIBRI
Eu tive muitos amores
como quem cultiva flores
mas não sei quais mais amei.
Como jardineiro sem jardim
cultivei-as mesmo assim
flores que não se dão.
Mas quem nunca não tivera
desses anseios de quimeras
ceifados em arroubos d’outros jardins?
Ah, eu tive sim
e as quis só p’ra mim,
amores que em vão se perderão!
Eu tive muitos amores
com todos aromas de flores
mas não sei às quais mais me entreguei.
Perdido em noite de delícias,
seria a alcova o meu divã?
Rendido às paixões impudicas,
transformando o amor em coisas vãs!
Eu tive muitos amores
de todos os encantos que fores
somente eu sei como as deixei!
Como desejoso colibri
de flor em flor me perdi
na vil busca da fuga fugaz!
Não por crer ser efêmera
tão pouco ver a existência, pequena,
mas em tornar a vida a sina que vivi!
Sem saber para quê eu vim
tomando todo o não como um sim
e da alcova a cova que eu jaz!
Eu tive muitos amores
que me restam pétalas em dores
somente eu sei quem me tornei!