Complexidade

Domado, deposto, solto
ao céu flutuante, ao vento revolto.
Balanço sem guia sob o desequilíbrio
do brilho, reflexo transparente
que ofusca, empalidece, machuca a gente
nos raios da saudade, que vem e vai
traindo os olhos na lágrima que aflora,
mergulha, rola e cai.
Indo na calmaria que contesta o ego,
debruço sobre nefasta solitude.
Da boca sofrida não nego.
De quando em quando saltam,
desabrocham descrenças,
flores que enfeitam a cama mórbida,
ao dormitar sem descanso,
aos maus tratos sem zelos
recolhendo madrugadas, pesadelos,
pela troca de rumos, sem toques,
apenas crucificando os atos.
Solto, deposto, domado
sobre a crista raiada da maré,
há o rochedo patético que me aguarda
jogando reflexos negros,
espumando os pés, querendo tinta
rubra à saia rodada azul.
Ah, Deus, não há afeto capaz de remover,
licenciar a festa da orgia
que acontece neste pensamento,
transgredindo as leis, fórmula as suas
noitadas, puras, nuas.
Ser solto, domado, mas deposto eternamente.