Pérolas dos olhos


Que não sequem as fontes. 
Que nunca sequem meus olhos.
Que sempre eu possa chorar,
ofertar cada lágrima ao companheiro,
ser sensível à sua dor.
Quero fazer parte de quem divide
sem omitir dimensões.
Quero contemplar alegrias,
correr atrás de cada sorriso,
ser participante da palavra,
saber escutá-la e proferi-la.
Que jamais sequem as fontes,
tampouco meus olhos,
para que possa desfrutar do sentimento,
sabendo que sou gente,
que posso e devo chorar.
Chorar quando for saudade,
quando tiver que ser caminho escuro;
chorar no vazio, na ausência,
quando só houver silêncio
e o mundo for mudo.
Que não sequem as fontes,
o cântaro que canta na rocha,
que quebra o silêncio,
que fala na pauta, que rola,
que desce a encosta.
Que não sequem meus olhos.
Pela lágrima, a fé brote, salpique de prece
no fervor da oração em nome de Deus.
Que nunca eu perca este dom,
o poder de sentir sem esconder,
sem segredos, sem omitir.
Que não sequem as fontes
para o colapso da vida,
já quase tão extinta,
extremamente vazia de tudo,
até mesmo de uma simples gota,
minúscula gota de lágrima.