Perdoa-me Senhor



Hoje estou aéreo na ingestão
sob a posse de algum calmante.
Faço-me da madrugada amante.
Sou dono da cidade sem luzes,
das ruas vazias, da fome dos mendigos,
do frio que a plebe enfrenta
enquanto tenho cobertas, teto.
Fica o erro no espaço,
como um avião sem rota,
uma folha que flutua.
Algo não bate no peito.
O mundo está endurecido.
O tempo, os novos prometidos
circulam pela literatura,
enquanto a fome, o frio, a dor
embarcam no realismo,
pelos omissos; por mim, por você.
Somos um conglomerado de feras
dóceis, afetuosos, extremamente falsos,
obcecados pelo poder, pela vitória,
sem saber contra quem brigamos;
talvez contra a vida.
Neste caso, esta é pérfida, perigosa.
Ah, prostituídos de almas,
somos podres, vermes, absolutos na infâmia.
Confesso, declaro, faço parte desta corja.
E quem negar, bem é um grande,
um imenso filho da puta.
Ah, Senhor Deus, digo a quem criou,
quem fez tudo tão correto e perfeito,
por que não só animais habitando,
procriando neste mundo maravilhoso,
e não esta peça defeituosa, imperfeita,
que me envergonha de ser homem?
E não me esqueço que sou omisso.