Eu, roupa

Eu te vesti em roupas

Que não te cabem

Ofereci minha nudez em troca

Mas de nada vale essa mercadoria

E desse emaranhado de trouxas

Só sobrou o pó

Quando abri meu guarda roupa de emoções

Pude constatar o mofo

A alergia que esse véu de ilusão me proporcionou

Coloquei luvas ao te tocar

Minhas digitais não te reconheceram como indivíduo inteiro em essência

Mas, sim, com máscaras

Que ao retirá-las pude perceber

Toda peça, todo item

Que coloquei em seu corpo.

O amor está à venda,

Quem o compra espera suprir

O desejo da falta

Mas o produto, infelizmente, nunca é original de fábrica

Então nos utilizamos de artifícios para ficarmos atraentes e belos

Para que alguém nos banque pelo preço inteiro

Mas a realidade é que o consumo massacra

O capitalismo nos rasga em trapos

Então nos contentamos em caber em espaços pequenos

Estarmos no fundo da gaveta usada do esquecimento

Torcendo para que um dia

Alguém nos escolha

Pelo material bruto

E não para ser um meio

De ser descartado.

(Usa, abusa, se cansa)

Roupa remendada, maltrapilha

O novo é mais barato, descomplica

Tantas opções em promoção

E tão repetitivas

Um lixo de afetos

Que tentamos encontrar luxo

Na reciclagem do velho.

Bruna Larissa Nogueira
Enviado por Bruna Larissa Nogueira em 21/07/2020
Código do texto: T7012170
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