Veracidade




Eu queria mesmo é ser só.
Só, de pensamento, sem entender a vida
e nem procurar saber suas causas,
nem motivos e suas passagens confusas.
Eu queria mesmo é ser livre,
liberto de tudo que o homem pensa,
imagina ter criado em benefício próprio.
Eu queria ter o dia como ele é,
manhã feita de manhã,
sem artifícios, nem posições,
nem horários.
Eu queria tardes,
fim de tardes sem épocas, sem mistérios;
de idas e vindas ao amor
sem segredos.
Eu queria noites, bem noites,
sem escuros, de olhos quase claros,
de boca repousante,
seios salientes ao meu afago.
Eu queria madrugadas sem pernas
lentas entre meus lençóis,
sem barulho de buzinas,
sem clarões de faróis.
Eu queria mesmo, ser diferente;
só de pensamento, neste mundo conturbado.
Eu queria mesmo ser só;
só até mesmo de passado.