DESILUSÃO
Raspamos, ávidos, o fundo do tacho
Daquilo que resta do mundo.
É um recomeço ou um final de festa?
Recuo; já nem sei mais o que acho.
Tudo aquilo que aprendi, aprendi mal?
Nada sei, nada tenho a partilhar
Daquilo que me ensinaram,
Daquilo que descobri no meu inferno
E do que bebi do meu graal?
Apontam dedos pontiagudos
Para o meu nariz curioso e inquieto,
Apontam sem dúvidas, ríspidos e retos,
Dizem-se da sabedoria oriundos.
Vejo desmancharem-se as vestes dos gurus,
Vejo, sob as máscaras, os olhos fundos
E as olheiras.
Os dentes que sorriem não se coadunam
Com o sangue nos olhos.
As bênçãos que proferem são rasteiras,
Rançosos os óleos.
A paz é uma prostituta de rua,
Oferecendo seus serviços a quem quiser comprar,
O troco, é a guerra – moeda crua
Que muitos estão a aceitar.
-Me diga: aonde vamos, nesses tempos loucos?
Porque se somos muitos, apenas poucos
Ainda entendem, ainda sentem
A força e a necessidade de amar!