UM DIA PARO DE ESCREVER
Um dia paro de escrever!
Prometo que haverá um dia,
Que largarei esse ofício.
Prometo que chegará o dia que em breve.
Essa função que para nada serve,
A não ser em me surrar com palavras e vozes que nem sei de onde vem.
Será deixada de lado.
Ser lido e deslido.
Ser gostado e criticado.
Mas ao meu ver,
Nunca satisfeito nem saciado.
Ah! Um dia eu paro de escrever!
Essa pressão que os sonhos me causam.
Esse desprazer de quando uma linha não se completa sozinha,
E eu mesmo tenho que dar continuidade àquilo que não sei e nem existe.
Porém, se existe, considero cópia mal-feita,
Cópia vinda de mim,
Outro defeito.
Um dia... eu paro de escrever!
Talento questionável ao meu amigo de escrita.
Ao meu próprio leitor.
A mim mesmo.
"Você escreve bem".
Mas o que é escrever bem?
Como é que sem conhecer o leitor,
Eu adivinho o que ele sente,
Ou faço sentir o que sinto?
Quantos cortes tenho que fazer nesse texto ou na minha carne?
Até onde a verossimilhança me acompanha?
Até que ponto a verdade e a mentira vão andar juntas nesse "papel"?
Até quando as letras farão o seu papel?
Ou só estão presas no papel?
Por Deus! Eu juro!
Nem posso jurar, mas juro.
Um dia eu paro de escrever.
Cansei do estresse,
Do desgaste mental,
Da falsa ilusão que ficou bom.
Vou-me embora pra Pasárgada** e não toco mais nesse assunto.
Verso e prosa me fadigam.
E fustigam meus dias.
Aposento minhas ideias,
Minha intertextualidade,
Meus finais abertos e fechados,
Minha metrificação,
Meus personagens,
Minhas rimas e meus gêneros.
Maldito seja o dia que comecei a escrever!
Estou farto de revisões,
Edições,
Reedições,
De nunca estar bom para alguns,
De nunca estar ruim para outros,
E de nunca estar para mim,
Em dia nenhum.
Largarei a escrita e farei outra coisa.
Já que larguei meus dias para escrever.
A arte de escrever dá muito trabalho.
Meu desabafo lírico é tão insensato,
Que é sensato.
Por isso, um dia paro de escrever.
E esse dia chegou.
Portanto,
A partir de hoje,
Nunca mais vou escrever.
Nunca mais!
Pelo menos,
De dia.