UMA GOTA DE CÓLERA
Viajo debaixo do chuveiro
Já que ali a água é sorna
Lágrimas correm o espelho
Arranhando minhas córneas
Minha voz já sem forças
Desconhece o som do seu eco
Cercado por paredes de louça
Tudo que atravessa é um prego
O ar enclausurado no peito
Falta na sequiosa garganta
Se o coração é só um amuleto
Porém a alma não se engana
O tempo (só)mente e procrastina
E sempre encontra o que levar
Sufoca com a sua tênue linha
E tende a adivinhar como será
Empoeirada está a cortina
E vazio o porta-retratos
Da sala até a cozinha
São reprises os passos
Não vou aquecer os sonhos
Que um dia sonhei para mim
Da cama está a léguas o sono
Mas a coberta é de espinhos
Escolhi esta fria alcova
Na companhia do meu ego
Hoje escolhi a mesma roupa
E em nada mudou o verbo
Só gostaria de uma escada
Que me acendesse ao céus
Porém não compro medalha
E tampouco forjo troféu