Desencanto
E agora poesia?
Para onde irei, nos meus momentos de insanidade,
sobre o mórbido fio da navalha,
entre a loucura e a criatividade;
repousarei meus versos.
Diante das estrelas ou sob elas?
Oh! Céu dos meus findos dias,
ouve-me em segredo...
E agora poesia?
A lua é testemunha de meus devaneios,
a brisa; idem
e quantos demônios acompanham-me?
Nas sombras...
Nos estampidos...
Na solidão deste rascunho.
Ouve-me em segredo...
E agora poesia?
Onde sepultarei meu sorriso,
minhas lembranças,
meu último pranto
e nossos gestos de iniqüidade.
Acima de minha cabeça,
nuvens negras relampejam,
num destempero tortuoso de idéias.
Ouve-me em segredo...
Hoje recai sobre meus ombros,
um inflexivo e tenebroso pensamento.
Qual seja, minha incapacidade momentânea.
Vivenciar a morte?
Vivificar a boa sorte!
Reverenciar-me ao amor.
E agora poesia?
Ouve-me em segredo...
Falha a caneta, a mente é falha,
sou humano, vejo ressalvas, tenho medo.
Um riso titubeia...
Um vento sibila assombros...
Perco-me sob o céu cinzento,
não lhe ouço a resposta.
Silêncio... Silêncio... Apenas silêncio.