Santuário


Já não sei achar os caminhos.
O céu está vazio,
os anjos se foram,
a estrela guia se fez cadente,
me fiz espúrio, você se fez gente.
Mas a vida lá fora se vai,
toca bordões na viola,
gira mundo, rola que rola,
cruzam-se as linhas,
as vozes já não são minhas.
De repente, um dia,
a manhã inesperada,
o leito vazio, o céu azul,
o pecado, o erro, a mágoa
no calor, no vapor do verão.
De repente já não sei
se há, se existe alguma estrada
lá no fundo, longe da vida,
fora do céu azul,
na estrela que passa,
onde deixei cair a lágrima
que marcou a terra
e fez brotar um sorriso
que cansou no canto da boca,
parando no êxtase da espera,
do perdulário sonho de querer a fé
sem encontrar seus caminhos,
aos refúgios da paz,
quando desconheço a razão de viver
sem amar ao menos uma saudade,
onde ela possa ter existido.