Detentor




Ser quase um deserto
é ter todo o espaço do mundo,
cada minuto, cada hora,
é poder sair sem ter a quem
despedir quando aflora,
salta pela boca o adeus.
Ser solidão e medo
é compartilhar desprezo,
dor consigo mesmo,
cercado pelas farpas da multidão.
Ser, apenas ser,
sem nada ter sido,
criado e autorizado a viver,
percorrer todos os caminhos
sem vislumbramentos,
sufocando sentimentos,
recepcionando agruras.
Ser sem ter.
Ter ou não ser.
A lógica para meus fatos,
o correto que me enterrará,
o coreto para os aplausos,
o conflito das coisas que sinto,
o confuso mundo da posse,
do consumo que consome,
que nunca saciou minha sede,...
minha fome.
Ter, apenas se revela
nos traços que rabisco,
pelo ser gente,
pela poesia que habita neste mundo
onde ser tem seus valores reajustados
na própria vida.