Profanação




As vezes quero me esconder,
fugir das coisas,
ser um trapo velho posto no fundo do armário.
As vezes tento e venho,
coloco-me de bruços sobre o papel.
Quero falar de tudo sem censura,
quero correr livre, nu.
Mas, a cabeça gira, rola,
as palavras vão para o fundo...
as pautas não são pautas,
são tão incautas
quanto as putas
que se despem, se vestem,
se calam aos horrores do sexo vendido,
da ficção no amor proibido.
E a forja da vida prossegue,
talhando, esculpindo,
revelando obscuridade,
transando luzes negras,
se por trás há, existe ainda o azul.
E eu quero o quê?
Nada se concebe sem trocas vadias,
não há divisões de valores.
Ah, valores, que ideia vã!
Pensar, supor em validades.
Tudo se perdeu ou eu me perdi.
Algo não vai bem na frente.
Tenho mesmo é que procurar uma gaveta,
um pedaço de lugar para compor,
criar um absurdo de vida,
talvez enredo para escola de samba,
O sonho fantástico da hipocrisia”.