TIROLESA

[Para Petronília, que sua irmã Regina chamava de

Pepeta, na nossa querida infância que há muito se foi]

Não me deixes atravessar teu rio,

Nem mergulhar neste teu mar,

Águas claras, cristalinas ondas,

E eu a imaginar aquelas gotas...

Em cada uma delas, teu olhar!

Montanhas submersas, abismos...

Colossais rochedos, oceano, vida!

Não me deixes beber desta ilusão,

De pensar que não me embriagarei...

Todo o meu medo é tua indiferença.

A me olhar, como quem vê apenas

A própria sombra, à água debruçada...

Preciso apenas de um afluente teu,

Um riachinho de nada, um córrego...

Que desça para um igarapé, um lago,

Um açude bom... Onde eu possa

Ali retratar-te, amor de minha sede!

Insaciável fonte de minhas inspirações,

Brota-te, para mim, de tua nascente...

Linda, reluzente à luz celestial desse

Nascer do dia, da boca da noite de luar!

É tudo sonho que se vai em ventania,

À luz do sol tudo seca, esvazia e se vai...

Solo seco, negra noite de solidão,

E o chão rachado com a mais pura e vã

Recordação de um mar, do rio, riacho...

Acho que ficam mesmo só as lágrimas,

Formando um fino fio de tristes águas...

Na paisagem, no peito dolorido, na alma,

E finalmente nos nossos cansados corações.

Ah! Vou usar mesmo a tirolesa e passar

Sobre teu mar, teu rio, o riacho, o igarapé...

Pois cairei sempre no lago cruel da saudade.

Poeta Camilo Martins

Aqui, hoje, 13.04.2013

19h36min [Noite]

Estilo: Livre