Quem era Lídia?
Você pode queimar bem mais que a mão
ao defender paixões desiludidas.
A vida não perdoa ninguém.
Não é generosa.
E tudo o que dá é apenas
por obrigação de seu ofício.
A natureza, imponente em seu trono
de nuvem e indiferença,
é apenas régua imparcial.
Outro dia vi Lídia e me perguntei quem era ela.
Ela também se perguntou quem era eu.
Sim, não mudamos,
mas não somos os mesmos.
Perdemos mais do que prometemos
aguentar perder.
Recebemos o castigo dos castigos.
Seu rosto, antes quase angelical
não fosse seu olhar de pantera acuada,
mostrava as marcas do caminho:
as cercas enramadas
que seu coração a fez transpor.
Havia dor em seu olhar. E seu aceno a mim
deixou claro que neste mundo,
nesta merda de mundo,
viemos como visitas indesejadas
apenas para sofrer, amar, perder e morrer.
Acenei de volta e levantei a mão
ao primeiro ônibus que apontou na curva.
Ficar ali poderia exigir algo
que não estava disposto a dar ou perder.