Gosto amargo




Minha sombra
comigo se deita
lado a lado em minha cama,
e aos poucos
logo me proclama
seu rei,
o último solitário
feito de letras, rabiscos,
sem vozes, nem ouvidos,
apenas pelas visões
buscando emoções
tiradas de coisas banais,
de perdas, sonhos
que ficaram bem longe,
antes que o sol brilhasse pelos verões
que também perderam o calor,
o sentido da brisa fresca
que um dia tocou o rosto dela
secando a coca- cola dos seus lábios.
Foi o tempo que passou
quando perdi a chuva,
a pedida molhada nos cabelos,
perto dos afagos, dos apelos.
Foi longe que vi a imagem dela
talvez pela mão de outro,
pela boca de outro beijo.
Agora já é perto o adeus
segue-se, apenas a espera,
o rufar do tambor
sem rodas, nem cirandas,
só andanças,
perfis de mudanças.
Nada, nada resta além da morte.