SUAVE É A NOITE

SUAVE É A NOITE

O suave anoitecer na cidade delirante

Trás consigo uma estranha sensação de mansidão

Um silêncio atordoante que se faz ouvir distante

Na profunda calma irritante do casal petrificado nas cobertas em desalinho

Desenhadas nas sombras projetadas pela tênue iluminação

De uma velha lâmpada solitária que acende a apaga no estreito caminho

Como se envergonhada pela farsa da perversão

Ninguém ousa quebrar o gélido silencio da suave noite

A noite é nebulosa, é diferente, apaga os rastros mais profundos da gente

E da mente

Faz da mentira a mais legítima verdade

Nem que seja só por uma noite... esta noite... quem sabe quantas noites?

Para os dois não há liberdade

Muito menos vontade

O tempo acabou para duas almas reclusas em si mesmas

A incessante procura da felicidade foi detida pelas tramas da sociedade

E num novelo interminável de falsidade, colocaram algemas

Nas mãos que escreviam a mais linda história de amizade

Depois da meia noite o tempo parou

O mendigo invisível com seu cão passou e ousadamente olhou

A brisa ameaçadora da pandemia esfriou

Virou ventania

Mas já estava amanhecendo

E apesar de cinzento, a manhã é outro momento

Ou apenas mais um dia?

Marco Antônio Abreu Florentino

Com este poema, procurei sair do meu usual estilo de escrever poesia (mais próximo do parnasianismo, principalmente pelos sonetos) para um estilo mais modernista, com intuito de homenagear F. Scott Fitzgerald, um dos maiores escritores americanos e sua esposa, também escritora Zelda Fitzgerald.

Com biografias fascinantes, os dois formaram um casal famoso na década de 1920, sendo adeptos de festas, reuniões sociais e a toda agitação que a era do Jazz prometia. O relacionamento deles interferiu diretamente nas suas obras.

Para entender o poema em referência, é preciso ter lido o romance  ¨Suave é a Noite¨ ou assistido ao filme de mesmo título.

NOTA: No final faço uma referência à uma pandemia, que pode ser da gripe espanhola, iniciada nos EUA, de 1918 a 1920 (ano do casamento e lançamento da primeira obra de Fitzgerald) ou da virose pelo coronavírus iniciada em 2020, na China, cem anos depois, afinal, relacionamentos amorosos conturbados vão sempre existir, com outros atores mas sempre seguindo enredos semelhantes.

OBS: O mendigo invisível representa o vírus que olha ameaçadoramente para a humanidade. O cachorro, os capitalistas radicais canalhas que, como cães famintos, nem sequer olham para as vítimas ou pessoas em derredor.

https://youtu.be/zNRjivHwEBc

(Strangers In The Nigth - Frank Sinatra)