OS FAMIGERADOS DINHEIROS
- Ai Iscariotes, Iscariotes,
Agora, depois do mal feito,
Vens aqui aos sacerdotes
Dizer que não há direito…
- Devias ter pensado antes
No resultado que dava:
De ti, entre tantos figurantes,
Tudo isto já se esperava…
- E pois – já que aconteceu –
Vai-te daqui-para-fora,
Co´ a tua bolsa e chapéu.
Está na hora, fora, fora!
E Judas, desesperado,
Já nada mais atentou
E ao dinheiro amaldiçoado
Para o Templo arremessou.
Uma forte gargalhada
Ecoou, daqueles fariseus
E, em menos de um nada,
Bradaram para os céus:
- Ó Falstaff, ó da Praça,
Que andas aí feito galdério,
Faz já um contrato de raça
Destinado a um cemitério…
- Trinta dinheiros sobejam
Pra comprar um descampado
Uns bons lucros se almejam
Num Campo Santo ajeitado…
- Há boato que o Iscariote
Foi visto num descampado
Com um forte laçarote,
Numa figueira pendurado.
- Ai é? Ainda bem que o fez
Pois co´ a sobra do dinheiro
Já fica marcada a vez
Para ser ele o primeiro…
E assim aquele traidor
Que o bom Jesus negociou
Sendo enterrado, à maior,
O cemitério inaugurou.
É este o preço da traição,
Em todo e qualquer equinócio:
Há sempre uma solução
Para lucrativo negócio.
Tais famigerados dinheiros,
Envoltos em maledicência,
Transformam agiotas banqueiros
Em monstros sem consciência!
Frassino Machado
In AO CORRER DA PENA