Natureza Morta

A natureza é quase morta.
O sol tem um brilho diferente,
as estrelas não cintilam como outrora.
A lua, ah! A lua
já se fez ausente,
foi embora.
O oceano ficou bravio,
as ondas quebram violentamente
contra as rochas,
em louca revolta.
As praias de areias brancas
já não são bonitas;
e eu que gostava tanto delas,
não as procuro mais.
Não vejo um motivo sequer,
para amar o que foi tão bem criado.
Apenas amo aquele vulto de mulher
que se expõe ao sol,
que reflete nos olhos, as estrelas.
Amo perdidamente a alma tua,
que se esgueirou na sombra da lua.
Amo teus pés que caminhavam
longamente, por areias brancas.
Amo teus cabelos revoltos,
que iguais as ondas nas rochas,
vinham de encontro ao meu rosto.
Amo agora o silêncio que me foi deixado.
Amo a brisa que passa,
que fala de amor, de saudade,
de um sonho passado.
Amo as trevas;
fico perdido na umbrosa madrugada,
procurando ver-te.
Amo a solidão em que vive,
o esquecimento.
Amo a virtude, a paz que nunca tive.
Amo-te; fostes minha derrota.
Amo a lágrima que um dia contive.
Amo na saudade de ti,
amando a natureza quase morta.